Quando nos formamos, estávamos absolutamente prontos para fazer qualquer projeto, cálculo ou estudo imaginável. Mas o mercado não queria isso…. Ficamos furiosos com aquela visão “simplista” das obras e projetos, uma vez que passamos anos aprendendo a fazer aquelas coisas, com o máxima precisão, e todos os detalhes necessários…
Nós, formados na faculdade X, Y ou Z, com altas notas e muita prontidão éramos subaproveitados, enquanto os caras mais velhos da empresa, que nem sabiam calcular uma treliça espacial pelo método de “sei-lá-quem” ganhavam mais que nós, e ainda mandavam a gente mudar algumas coisas… E o chefe concordava!
E porque?
Porque o que aprendemos na faculdade não dá lucro.
O mercado da construção civil não perdoa perder tempo ou dinheiro, e qualquer empreendimento tem que ser lucrativo! E só!
Tudo o que fazemos, enquanto profissionais habilitados, deve ser tecnicamente correto e bem feito, seguindo todas as NBRs ou normas aplicáveis. Toda obra deve ser absolutamente segura, bem feita, e seus profissionais e trabalhadores devem receber todos os direitos para executar isso. Mas o mercado precisa de lucro.
Uma excelente inovação tecnológica que não gere economia dificilmente será requerida por algum cliente seu, assim como ficar horas discutindo a escolha do piso “A” versus o “B” gera perda de tempo do profissional, e o chefe não quer pagar por isso.
As empresas e empreendimentos da construção civil se dividem em 3 grupos:
1) As que dão lucro.
2) As que empatam, e não crescem.
3) As que morrem.
O produto entregue por elas pode ser o mesmo, e ao mesmo preço final. Ter a mesma qualidade, estética e padrão de acabamento. Podem ter sido realizadas com os mesmos aditivos, ou sem nenhum. Mas, se não houver lucro, seu negócio falhou.
Como as empresas podem ter tido o mesmo produto, ao mesmo preço, e ter resultados tão diferentes? Porque suas equipes se comportam de maneiras diferentes, e não há um modelo para isso… Vamos entender algumas diferenças:
– Ineficiência de campo: Enquanto uma empresa produz aquela coisa utilizando, por exemplo, 100.000 hh, a outra utiliza 110.000 hh, gerando uma ineficiência de 10%. Isso que dizer, na prática, que uma empresa gastou 10% a mais do que a outra com mão-de-obra para produzir a mesma coisa. Como mão-de-obra custa em torno de 50% de uma obra convencional, já se foram 5% do lucro da empresa.
– ineficiência gerencial: Equipes de escritório tem impacto direto no resultado financeiro de uma obra ou empreendimento…. mesmo sem produzir nada. Isso se refere àquele profissional que não produz bem, ou que gera muitos retrabalhos. Também se refere àquele cara que gera conflitos e não produz bem em grupo. Também ao RH que leva 2 meses pra substituir alguém, e ao projetista que perde tempo discutindo detalhes irrelevantes. Tudo isso faz seu custo de administração central subir, mesmo que não tenho produzido mais.
– Falta de fluxo de caixa: Quando uma empresa entra numa obra ou empreendimento ela tem que ter feito exatamente a conta de quanto precisa de dinheiro… e quando irá receber. Além disso, deve sempre ter um dinheiro de segurança (capital de contingência) para eventuais furos. Mas normalmente as pessoas não fazem este estudo de maneira profunda, e se encontram no meio da obra e sem dinheiro. Para a empresa não quebrar, vão pegar dinheiro em bancos ou com investidores, e isso, além de perder tempo, pode comprometer o lucro do negócio.
– Falhas de suprimentos: Os erros de suprimentos que mais corroem o lucro do negócio se dividem em 3:
1) Comprar barato demais: Comprar barato demais costuma ser um erro gigante… porque, no caso de produtos comuns ao mercado, se algo está barato demais, deve estar errado. Pode até ser uma oportunidade, mas deve-se ter cuidado…. Normalmente o produto está vencido ou não tem a qualidade necessária, ou a fornecedora está quebrando, ou nem mesmo existe.
2) Comprar rápido demais: Se um item está em atraso ou acabou na obra (falta de planejamento), a equipe de suprimentos tem que comprar rápido para não parar a produção… e, para comprar rápido e receber rápido, o preço será mais alto. Simples assim.
3) Falha de qualidade: Quando se compram produtos sem a devida atenção, é comum receber itens com qualidade diferente da especificada, produtos danificados ou com apresentação de vícios. É obrigação da área de suprimentos checar isso na compra e na entrega dos itens… mas normalmente ela não sai do escritório.
– Multas: Os contratos geridos profissionalmente não permitem falhas. Empresas que erram em cronograma, compras técnicas, qualidade ou qualquer outra coisa está sujeita a tomar multa e perder parte significativa do seu lucro. Mas, normalmente, os donos e jurídico da empresa não deixam ninguém ver o contrato, trancado a 7 chaves…. e a equipe pode gerar problemas por desconhecimento, além de incompetência (que é o mais comum).
– Processos trabalhistas: Os profissionais da construção civil devem trabalhar mediante o cumprimento da CLT e de várias NRs, e o seu descumprimento é motivo para multas, paralisação de obras e até pode caracterizar crime (mesmo que não haja acidente). Além disso, o custo de EPIs e EPCs num empreendimento é próximo de 0,5% do valor global, o que não justifica sua ausência. E porque acontecem tantos problemas? Porque a grande maioria dos engenheiros e arquitetos nunca leu uma NR na vida! A empresa que não cumpre as NRs ou a CLT deve ser punida, e vai perder tempo e dinheiro com isso.
#Ficaadica: Conheça pelo menos as NRs 6, 8, 10, 11 e 35. Estão em https://trabalho.gov.br/seguranca-e-saude-no-trabalho/normatizacao/normas-regulamentadoras
É principalmente por esses motivos que as empresas de construção podem fazer o mesmo objeto, receber o mesmo valor por ele e ter alto lucro, empatar ou até prejuízo. Não tem nada a ver com a qualidade do produto final, mas com a competência gerencial do negócio.
Mas nada disso você aprendeu na faculdade… A faculdade ainda foca em elementos técnicos, de cálculo, de projetos, etc. Mas não ensina gestão. Não te ensina a lucrar, ou onde estão seus riscos de prejuízo.
Está na hora de entender aquilo que realmente importa!