Participei de um evento com os candidatos a presidência, durante o 1o turno, cujo foco era ouvir suas opiniões acerca do tema – visão e estratégia de cada candidato, em relação aos investimentos em Infraestrutura no país.
Chamou minha atenção, o fato de que, mais da metade dos candidatos, terem falado da necessidade e da importância de que, antes de investir, ter o Projeto Executivo.
Sabemos que a garantia de retorno de um investimento, passa pela análise de uma série de fatores. E que um destes fatores, que considero um dos mais relevantes, é o de se ter um Projeto (aqui ressalto que um Projeto passa por diversas fases até se chegar ao Projeto Executivo).
Se olharmos as mais de 7000 obras públicas paradas no país, sua grande maioria, traz como consequência direta ou indireta, a ‘ausência’ ou ‘carência’ de um Projeto Executivo.
Tenho comentado a um bom tempo, sobre o ‘descaso’ que investidores, públicos e privados, tem demonstrado em relação ao Projeto.
Muitos e importantes investimentos tem seu início, com projetos com uma insuficiência enorme de dados e informações. o que considero fundamentais para o sucesso do investimento.
Agora, por que nossos projetos falham?
Falta um insumo básico: inteligência.
Aqui no Brasil, se dedica pouco esforço às fases de planejamento. Vejam este dado do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral: a elaboração de projetos, a montagem dos cronogramas e as projeções de custos chegam a consumir cerca de 40% do tempo previsto para uma obra no Japão.
Na Alemanha, este tempo dedicado chega a 50%. Porém, aqui no Brasil, só um quinto do tempo é despendido com as etapas iniciais.
“No Brasil, as obras podem ser iniciadas apenas com um projeto básico”, diz Paulo Resende, professor da Fundação Dom Cabral. “Sem detalhamento, é natural que surjam situações não previstas, exigindo mudanças no cronograma e mais dinheiro para a execução.”
Dados do Tribunal de Contas da União, mostram graves problemas de projeto, em grande parte das obras em que fazem a fiscalização.
Quando tratamos do tema Projeto, sabemos que não é tarefa das mais fáceis. Principalmente pela pulverização que encontramos no mercado, em relação aos profissionais e empresas projetistas. Vimos ao longo de décadas, em função de várias crises no setor da construção, as grandes transformações pelas quais estes profissionais e empresas passaram.
Houve uma desvalorização muito grande pelo mercado, do valor agregado de um projeto. Estamos falando aqui de um ‘bom projeto’.
Muitas empresas projetistas, por não suportarem estas constantes crises, foram reduzindo seus quadros e transformando os seus profissionais em ‘prestadores de serviços’. Vimos este cenário passar da terceirização de algumas atividades do projeto até mesmo para a quinterização. Claro que, isto fez com que a qualidade destes projetos caísse bastante. Aquele valor agregado que deveríamos encontrar nos projetos, aquela qualidade, já não pode mais fazer parte do pacote. Os preços praticados pelos dois lados – contratante e contratado, comprometeram todos estes ingredientes.
Haja vista que, se analisamos a tríade de implantação de um projeto nestas condições, teremos com certeza o comprometimento de um ou mais pontos – escopo, prazo e custo. O que ao final compromete a qualidade do projeto.
Vejam que, a formula é muito simples. São apenas algumas variáveis envolvidas neste contexto, quando estamos tratando do Projeto.
É preciso mudar.
É preciso criar uma consciência em relação a existência de um Projeto Executivo adequado, para se iniciar qualquer investimento.
Sem o Projeto Executivo, é praticamente certo que o investimento terá o seu retorno comprometido.